28 setembro, 2013

Novo livro de Paulo Leminski nas livrarias

Na última terça feira, dia 24, chegou às livrarias o livro Vida, de Paulo Leminski. É uma reunião de quatro biografias originais escritas pelo autor: Trótski, Bashô, Cruz e Souza e Jesus Cristo. As biografias foram publicadas originalmente na década de 1980, época em que Leminski estava em grande atividade, e o título da obra é sugestão do próprio autor: "Com os três livros que publiquei, Cruz e Sousa, Bashô, Jesus, e o que agora estou escrevendo sobre Trótski, quero fazer um ciclo de biografias que, um dia, pretendo publicar num só volume, chamado 'Vida'", disse, o que veio a acontecer em 1990 quando saiu uma edição reunindo as quatro biografias.

Ao escrever estas biografias Leminski deixou escapar seu gosto literário, ou escancarou de vez, expondo também a origem de suas influências e revelando um pouco de si. Nunca foi segredo sua admiração pelo maior poeta simbolista, Cruz e Souza, e por Matsuo Bashô, o grande poeta japonês, apreciado por ele, e de onde veio seu gosto pelos seus tão famosos haicais. Trótski, Leminski o vê como um autor do "mais extraordinário livro sobre literatura" já escrito por um político e Jesus como um poeta. Leminski foi um autor “múltiplo”, como comenta Leyla Perrone-Moisés, “Não fazia média com ninguém, nem com ele mesmo. ‘Na vida ninguém paga meia’; na poesia também não. Leminski pagou e recebeu inteira. A multiplicidade de tarefas, de línguas, de gêneros, de veículos em que ele circulava deixa, paradoxalmente, a lembrança de uma inteireza: a integridade de uma vocação de poeta que ele, obstinadamente, cumpriu.”.

Depois do sucesso de vendas que foi Toda Poesia, lançado a cabo de fevereiro deste ano, chegando a ficar em primeiro lugar na lista dos mais vendidos, a expectativa para o Vida é grande. Com grandes vendas ou não, o fato é que os leitores de Leminski estavam aguardando ansiosamente as reedições das obras do “cachorro louco”.

Destaque à editora Companhia das Letras aos booktrailers para a divulgação dos livros deste autor. Assim como teve com Toda Poesia, Vida, ganha uma produção mais que atraente ao divulgar a obra, com o talento de Gregório Duvivier.

Apreciem.






Vida
Paulo Leminski
Na Livraria Cultura por R$ 37,90.

04 maio, 2013

Link para Leminski

por José Miguel Wisnik  
Um corpo estranho tem atravessado como um cometa a lista dos best-sellers nas últimas semanas: o volume “Toda poesia” de Paulo Leminski. Um catatau cor de laranja em meio aos não sei quantos tons de cinza, um quinau de poesia flanando distraidamente em meio à corrida dos mais vendidos, com um pique vencedor (estou brincando, aqui, com o título de um dos seus livros, o “Distraídos venceremos”). Como diz o poeta curitibano, a poesia é um inutensílio que não tem nenhuma outra justificativa que não seja “a própria razão de ser da vida”, e de fazer parte, como o orgasmo e a amizade, “daquelas coisas que não precisam ter um porquê: pra que porquê?”. É ironicamente empolgante, além de intrigante, que a obra reunida do poeta, morto em 1989, se destaque de repente, inesperada, em meio à multidão de livros feitos ostensivamente para vender.

Ninguém, ao que eu saiba, sabe explicar a razão do fenômeno (mais de 20 mil exemplares em um mês e meio). E como os fenômenos de venda tornaram-se a “razão de Estado” de tudo quanto gira sob o controle de um mercado altamente administrado, é no mínimo curioso esse não saber sobre um certo poder imprevisível da poesia. Esperados sucessos que fracassam são mais comuns, nesse mundo de cálculos, do que fracassos que sobem inesperadamente à parada de sucessos. Pois estes desvelam, ao contrário, a emergência do incomum. Todos os editores que se aventuram no gênero trabalham com o fato de que o alcance monetariamente palpável da poesia é limitado por definição: “poesia não vende”. Envolvido na edição do livro com um texto escrito para ele (“Nota sobre Leminski cancionista”), pude ver de perto o quanto não estava no horizonte da editora uma expectativa de recepção quantitativamente maiúscula.

É certo que o senso poético de Leminski conversa de perto com a sua experiência publicitária – uma prontidão certeira, uma agilidade verbal e mental (que se liga também à sua relação com as artes marciais e a com a poesia japonesa), com a concisão e a vocação icônica que o fazem encontrar imagens sintéticas derivadas de clichês postos à deriva. Mesmo a prosa experimental e vanguardista do “Catatau” não deixa de ser uma coleção alucinante de jingles alterados sobre frases feitas. A dupla face vanguardista e pop, anunciada pela poética leminskiana, encontrou uma perfeita correspondência no hit maker Arnaldo Antunes, que a desenvolveu na poesia e na canção. A expansão desse campo talvez tenha contribuído para a onda de interesse retrospectivo por Leminski.

O bigode do “polaco louco paca”, à la Solidarnosc, já era, por sua vez, uma espécie de layout ambulante, um autorretrato metonímico que, aproveitado engenhosamente no projeto gráfico e promocional do livro, funcionou certamente como uma senha chamativa imediatamente reconhecível no meio do turbilhão das gôndolas das livrarias. Toda a guerra editorial contemporânea se aplica, aliás, a conquistar um lugar visível no congestionado espaço das megalivrarias, pressionadas pelo ritmo contínuo dos lançamentos buscando fisgar a atenção instantânea do comprador. A resposta instantânea realimenta, num momento-chave, a atenção do vendedor, que põe ou não o livro em espaço de maior destaque, promovendo vendas que, se sobem à lista dos mais vendidos, alavancam mais vendas, convertendo sucesso em sucesso. É de um tal círculo virtuoso e tautológico, disparado por fatores em parte imponderáveis, que dependeu a “laranja mecânica” de Leminski, associada ao carisma da sua figura e ao atrativo do objeto gráfico, para vir a contrair o vírus do best-seller.

Tudo isso continua a não explicar o porquê do sucesso insólito, embora sirva para situá-lo um pouco. Mas afinal, podemos perguntar também, pra que porquê? Um público de muitas idades, e jovem em essência, dá sinais de achar graça na gratuidade vitalmente comprometida da poesia de Paulo Leminski. Pois todo o circuito material e comercial descrito acima não avançaria numa direção tão improvável se não fosse guiado por uma necessidade interna e por uma confirmação de reconhecimento, passado o primeiro disparo do processo. Há uma sensível necessidade de poesia no ar, e ela foi identificada nesse poeta inquieto, capaz de ir fundo nas suas formas ancestrais e nas suas mutações contemporâneas, de transcender polaridades e de exercer a leveza profunda.

Durante algum tempo Curitiba não queria deixar Paulo Leminski morrer, como se ele tivesse que continuar imaginariamente ali, frequentando os mesmos lugares e as mesmas rodas. Mas o grande teste de um poeta é morrer, quando ele revela, como é o caso, o seu surpreendente poder de renascer.


09 março, 2013

25 fevereiro, 2013

Agora sim! tudo junto, tudo reunido. Para se deleitar.
Esta semana, dia 28, acontece o lançamento de Toda Poesia. São mais de 600 poemas de Leminski numa obra só. Em uma entrevista para a Gazeta do Povo, a editora da Companhia das Letras conta como foi feito o trabalho.

Toda a poesia de Paulo Leminski - CADERNO G



Ah, a capa não poderia ser melhor...